O desempenho dos sectores produtores de bens transaccionáveis na angola actual




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O DESEMPENHO DOS SECTORES PRODUTORES DE BENS TRANSACCIONÁVEIS NA ANGOLA ACTUAL

por

Emmanuel Carneiro

Pontos prévios
Para o presente contexto, consideram-se como “bens transaccionáveis” todos aqueles que, sendo usualmente objecto de troca através do comércio internacional, incorporam um sensível valor acrescentado, não se restringindo portanto, a um mero aproveitamento dos recursos naturais.

Por “África Subsariana” entende-se toda a África continental a sul do Sahara, com excepção dos países da África austral integrantes da SACU (União Aduaneira da África Austral) cujas economias, fortemente ligadas à economia da África do Sul, possuem uma lógica interna que as diferencia das da restante “África Subsariana”1.
1. Uma necessária reflexão histórica
A história económica de Angola, desde os primórdios da dominação europeia (finais do Século XV e Século XVI), constitui uma sequência de “ciclos”. Efectivamente, não obstante tal dominação europeia – ou, com mais propriedade, Ocidental – se ter metamorfoseado ao longo dos tempos, a lógica de dominação, pesem embora as transformações verificadas, constituiu um denominador comum. Os “ciclos”2, mais não são do que a expressão de tais transformações.

Desde então, a economia angolana passou a ser dominada pela produção/exportação de um número muito restrito de matérias-primas e produtos tropicais, sendo cada período geralmente dominado e definido pela proeminência de uma dessas commodities3. A sequência das commodities reflectirá as transformações operadas, simultaneamente a nível da produção material bem como a nível político e institucional.

É assim que, até 1973 (data que marcará o início do “ciclo do petróleo”), poderão identificar-se os seguintes ciclos:

  • O “ciclo dos escravos”, sensivelmente até à Conferência de Berlim (cerca de 1885).É o período em que a ocupação europeia se limitou à conquista e permanência em pontos restritos da costa marítima de Angola, os quais serviam de testas-de-ponte do comércio com o interior, praticamente só de escravos.

  • O “ciclo da borracha”, desde cerca de 1885 (a primeira exportação de borracha data, entretanto, de 1869) até sensivelmente 1910. Confunde-se com o período das guerras de ocupação militar, reflexo do novo imperativo económico do “aproveitamento de África” como expressão das alterações qualitativas impostas pelo desenvolvimento das forças produtivas e do processo histórico da Europa.

  • O “ciclo do milho, do café e dos diamantes” desde cerca de 1910 até 1973 (ano em que inicia o “ciclo do petróleo”), que Dilolwa (1978), identifica também como o período da exploração capitalista de Angola. É o período em que se cristaliza uma nova lógica no domínio económico com a implantação de um sector moderno na economia cuja principal função era a da solvência de uma procura situada no exterior. Uma nova forma de extroversão, portanto.

  • O “ciclo do petróleo”, numa lógica de continuidade, começa em 1973 – ano em que esta commodity se torna o principal produto de exportação. A Angola independente, até aos dias de hoje, confunde-se, consequentemente, com o “ciclo do petróleo”.

As alterações introduzidas pelo imperativo do “aproveitamento de África” após a Conferência de Berlim induziram alterações qualitativas as quais se reflectiram, quer na introdução de um novo modelo de comércio e de desenvolvimento quer na estrutura económica interna. Tal se expressa (de forma integrada):

  • Na implantação de um novo sector na economia, essencialmente com vista à produção e exportação dos bens necessários quer ao processo de industrialização emergente na Europa quer à satisfação de necessidades em produtos tropicais, da burguesia europeia (não passíveis de produção na Europa).

  • No aparecimento de um enquadramento teórico em conformidade, os modelos vent for surplus de comércio e crescimento4.

A lógica instalada originou, nas condições concretas de Angola, uma permanente e estrutural dependência da sua economia em relação à produção/exportação das sucessivas commodities. Tal dependência, além de determinar, por ela própria e nas condições concretas de Angola5, o desencadeamento de factores inibidores da alteração do tipo de especialização instalado, propiciou o surgimento, no tempo, de sucessivas crises em função da:

  • Instalação, a longo prazo, da conhecida e historicamente verificada, degradação tendencial das relações de troca com os países industrializados

  • De uma permanente vulnerabilidade adveniente da flutuação, por vezes drástica, dos preços das commodities6

Dois curtos períodos da história económica de Angola se constituem, entretanto, em ténues tentativas que representam efémeras experiências que parecerão, de alguma forma, desmentir a plena continuidade de tal lógica: trata-se do decurso da II Guerra Mundial e principalmente, dos primeiros anos subsequentes a 1961 (até sensivelmente 1973), data do desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional. No primeiro caso, as dificuldades na transportação marítima de produtos durante a II Guerra Mundial bem como o encarecimento dos respectivos fretes terão estado na origem da instalação de algumas poucas indústrias de produção de bens de consumo, antes importados; no segundo caso, a imperiosa necessidade de legitimação interna e internacional por parte do governo colonial tornou imprescindível a adopção de medidas de política económica que resultassem num “atestar de desenvolvimento”7. Contudo, sem anular a lógica estabelecida, a qual continuou se configurando como dominante – até porque necessária não só aos interesses da burguesia portuguesa como das outras potências ocidentais, num sistema de repartição de benefícios, capaz de melhor responder ao imperativo da conquista da legitimação internacional requerida.

Os anos da Luta Armada de Libertação Nacional representam contudo, uma primeira experiência de introdução de relações de produção capitalistas, com a adopção de políticas económicas voltadas para assunção de tal objectivo – entretanto viabilizadas por um ambiente internacional permissivo: a não imposição de um paradigma liberal, tal como adoptado após os anos 70 pela economia-mundo.

Numa perspectiva de continuidade, a aplicação de uma política económica conducente ao desenvolvimento foi prejudicada, no período pós-independência nacional, pelo surgimento de múltiplos factores, nomeadamente de ordem estrutural, de que se destacam:

  • O desgaste e os efeitos de uma guerra absorvente de recursos, indutora de constantes desequilíbrios da balança de pagamentos bem como de permanentes efeitos inflacionistas.

  • A vulnerabilidade resultante das flutuações, por vezes drásticas, dos preços do petróleo.

Uma lógica interna agravada pelo desenvolvimento da chamada “doença holandesa”, inerente ao “ciclo do petróleo”, iniciado em 1973.
2. Uma necessária breve abordagem teórica
2.1.Por que é o crescimento sustentado dos sectores produtores de bens transaccionáveis, um elemento-chave de aferição do desenvolvimento económico?
Na literatura económica é possível encontrar vários critérios de medição do desenvolvimento económico, desde os incrementos do produto interno bruto (global ou per capita) aos ritmos de crescimento do rendimento nacional por habitante.

Subjacentes a estes critérios, está uma concepção de desenvolvimento económico para a qual é indistinto o significado do crescimento de cada um dos vários sectores que compõem a economia. Dito de outra forma, o crescimento de qualquer um dos sectores da economia teria o mesmo significado em termos de desenvolvimento económico. E esta perspectiva basilar repousa ainda numa outra para a qual o crescimento económico teria uma natureza essencialmente exógena na decorrência da conhecida lei do decrescimento da produtividade marginal dos factores de produção8. Assim, o desenvolvimento – neste caso como sinónimo de crescimento – só poderia decorrer como o resultado da actuação de factores externos, dada a impossibilidade da sua geração endógena (de forma interior ao sistema).

O divulgado triunfo desta concepção tradicional está ainda ligada à generalizada imposição do paradigma liberal o qual reduz o desenvolvimento económico a um crescimento com “rosto humano”. Tal poderia sintetizar-se, de modo cómodo e simples, na seguinte equação:

Desenvolvimento = Crescimento + “Desenvolvimento Humano”
ou ainda, nas condições concretas da África Sub-sahariana,
Desenvolvimento = Crescimento do PIB + Redução da Pobreza

Entretanto, o crescimento obter-se-ia, por um processo de geração espontânea, a partir do preenchimento de algumas condições de base (postulados), essencialmente: liberalização, privatização, estabilização macroeconómica, abertura da economia.

Numa perspectiva neoclássica, este modelo abstracto é concebido de forma absolutamente divorciada do objecto concreto da sua aplicação, nomeadamente: tipo de sociedade, relações de produção dominantes, concomitantes formas e mecanismos de distribuição e de redistribuição do rendimento, tipo de especialização económica (base material) bem como a forma de inserção na economia mundial, nomeadamente, no comércio internacional9.

E importará ainda explicitar que, ao fim ao cabo, a própria concepção da igualdade da contribuição de cada um dos vários sectores para o desenvolvimento económico legitima, de molde implícito, uma divisão internacional do trabalho que, através da aplicação do princípio das vantagens comparativas, relega os países da África Subsariana para um tipo de especialização económica, uma especialização desigual10, não muito distinta da do “pacto colonial”.

À concepção tradicional do desenvolvimento contrapõe-se o conceito de desenvolvimento endógeno que enformou, ao fim ao cabo, as estratégias e políticas de desenvolvimento dos países ocidentais11 bem como dos actuais países emergentes12. Aqui, o desenvolvimento é sinónimo de alteração estrutural visando um crescimento sustentado, qualitativo e quantitativo, do tecido económico nacional – não dos sectores de enclave que não só não garantem tal sustentabilidade como, pela sua própria natureza, estão divorciados do tecido económico nacional empregando, por consequência, uma fracção mínima da população do país.

Neste sentido, serão indicadores de desenvolvimento13:

  • O valor acrescentado nacional – o qual obviamente se não confunde com os chamados windfall resources, numa concepção neoclássica remuneradores de direitos de propriedade, por exemplo, sobre jazigos minerais.

  • O efectivo emprego de factores de produção internos, nomeadamente capital14 e trabalho, em consequência. O desenvolvimento implicará assim um real emprego efectivo e potencial da população do país no processo de criação de riqueza. Este desiderato só é factível se baseado numa concomitante capacitação da força de trabalho nacional, quer a nível educativo geral quer no âmbito da formação profissional. Daí o papel chave, determinante e estratégico destes sectores num efectivo processo de desenvolvimento.

  • A sustentabilidade, no médio e longo prazo, do processo de crescimento. Este indicador não pode confundir-se com:

    • Um crescimento adveniente de um boom nos sectores produtores de bens de exportação de recursos naturais sem ou com uma incipiente transformação interna, dada a sua vulnerabilidade ou volatilidade

    • Um crescimento nos sectores de reciclagem de rendas externas que, de forma adventícia, acompanha os booms nos sectores rendeiros. Tratam-se essencialmente dos sectores do comércio, da banca e seguros, do imobiliário, dos serviços (de uma maneira geral, os sectores produtores de bens e serviços não transaccionáveis os quais, experimentado grandes incrementos dos preços internos em períodos de boom, induzem o crescimento da taxa de câmbio real, gerando a degradação da competitividade do país15 e inviabilizam, consequentemente, sua produção interna).

    • Uma estabilização macroeconómica não sustentável no médio e longo prazo16. Assim, uma “estabilização” obtida via emprego de recursos provenientes do boom (dos windfall resources) e utilizados como instrumentos de política cambial e monetária não é obviamente sustentável17. Durará enquanto estiverem disponíveis tais recursos18.

    • Um crescimento não ancorado numa sustentada competitividade. Na decorrência do que acima foi dito, excluem-se os sectores geradores de rendas externas e os sectores da sua mera reciclagem. E excluem-se, igualmente, incrementos verificados em sectores estruturantes da economia doméstica, nomeadamente nos sectores de bens transaccionáveis não rendeiros se previamente não for assegurado o postulado da racionalidade económica, expressa numa efectiva competitividade externa – a qual pode entretanto ser obtida, de forma instrumental, provisória, programada, limitada no tempo, por uma política económica proteccionista. Neste último caso, desde que previamente garantidas condições políticas de base, que assegurem como postulado, a esterilização de grupos de pressão capazes de transformar em renda, a utilização de tal instrumento. Mas este desiderato pressupõe um Estado forte, demarcado das bases de sustentação política do Estado rendeiro. Esta terá sido, historicamente, a verdadeira causa do fracasso dos vários intentos de “diversificação” da economia/das exportações, a partir de uma base rendeira.

Decorrendo do que acima foi exposto, parece legítimo inferir-se que os sectores produtores de bens transaccionáveis – agricultura de carácter não rendeiro e manufactura – encarnam o desenvolvimento, devendo os seus ritmos de crescimento sustentado (o que implica uma necessária distinção dos meros epifenómenos associados aos booms rendeiros) constituir o seu indicador de eleição.

Outros sectores da economia doméstica, nomeadamente o das infra-estruturas, têm um desenvolvimento dependente dos recursos gerados noutros sectores, acompanham o desempenho de outros sectores não sendo susceptíveis de gerar, por conseguinte, uma acumulação autónoma e sustentada. Se indispensáveis ao desenvolvimento, se o acompanham, o seu desempenho não é por si sinónimo, automaticamente, de desenvolvimento.

Os sectores produtores de bens transaccionáveis constituem os sectores de eleição das modernas teorias de desenvolvimento baseadas em actividades de R&D (pesquisa de desenvolvimento). Estas actividades permitem a assunção do desenvolvimento de forma endógena, isto é, de forma imanente da economia doméstica. Por isso – e porque necessárias ao processo de pesquisa e de desenvolvimento endógeno – são aceites como “legítimos” alguns tipos de rendas, neste caso, as geradoras de recursos indispensáveis a tais actividades: as rendas produtivas ou rendas de inovação (distintas das rendas improdutivas ou rendas tout-court). Mas tal só é factível em países onde as relações de produção capitalistas são dominantes – o que não é o caso, obviamente, da África Sub-sahariana onde a predominância de Estados rendeiros e a generalização dos comportamentos de rent seeking é a regra.

Em resumo, o crescimento sustentado dos sectores produtores de bens transaccionáveis encarnam o desenvolvimento na medida em que se tornam o sinónimo de crescimento endógeno e sustentado do valor acrescentado nacional, obtido a partir de um permanente incremento da produtividade dos factores. É uma perspectiva oposta à do crescimento do output rendeiro19, prisioneiro da lógica própria das economias de enclave ou da prossecução de um crescimento extensivo20 (não por via do incremento da produtividade do factores, mas de forma extensiva fruto da aplicação dos chamados modelos vent for surplus, na simultânea versão staple e unlimited labor force21).
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